sexta-feira, 23 de julho de 2010

Só o Ter


Só o ter flores pela vista fora

Nas áleas largas dos jardins exatos

Basta para podermos

Achar a vida leve.


De todo o esforço seguremos quedas

As mãos, brincando, pra que nos não tome

Do pulso, e nos arraste.

E vivamos assim,


Buscando o mínimo de dor ou gozo,

Bebendo a goles os instantes frescos,

Translúcidos como água

Em taças detalhadas,


Da vida pálida levando apenas

As rosas breves, os sorrisos vagos,

E as rápidas carícias

Dos instantes volúveis.


Pouco tão pouco pesará nos braços

Com que, exilados das supernas luzes,

‘Scolherrnos do que fomos

O melhor pra lembrar


Quando, acabados pelas

Parcas, formos, vultos solenes de repente antigos,

E cada vez mais sombras,

Ao encontro fatal


Do barco escuro no soturno rio,

E os nove abraços do horror estígio,

E o regaço insaciável

Da pátria de Plutão.

(Ricardo Reis )

Sem comentários:

Enviar um comentário