segunda-feira, 22 de março de 2010

ABISMO



OLHO O TEJO, e de tal arte

Que me esquece olhar olhando,

E súbito isto me bate

De encontro ao devaneando -

O que é ser-rio, e correr?

O que é está-lo eu a ver?


Sinto de repente pouco,

Vácuo, o momento, o lugar.

Tudo de repente é oco -

Mesmo o meu estar a pensar.

Tudo - eu e o mundo em redor -

Fica mais que exterior.


Perde tudo o ser, ficar,

E do pensar se me some.

Fico sem poder ligar

Ser, idéia, alma de nome

A mim, à terra e aos céus...


E súbito encontro Deus.

(Fernando Pessoa )

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