terça-feira, 25 de maio de 2010

VELHO E A FLOR



Por céus e mares eu andei,
Vi um poeta e vi um rei
Na esperança de saber
O que é o amor.

Ninguém sabia me dizer,
Eu já queria até morrer
Quando um velhinho
Com uma flor assim falou:

O amor é o carinho,
É o espinho que não se vê em cada flor.
É a vida quando
Chega sangrando aberta
em pétalas de amor.
(Vinícius de Moraes)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Onde, em jardins exaustos



Onde, em jardins exaustos

Nada já tenha fim,

Forma teus fúteis faustos

De tédio e de cetim.

Meus sonhos são exaustos,

Dorme comigo e em mim.

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Criança Desconhecida


Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,
Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.
Acho-te graça por nunca te ter visto antes,
E naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,
Nem aqui vinhas.
Brinca na poeira, brinca!
Aprecio a tua presença só com os olhos.
Vale mais a pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.

O modo como esta criança está suja é diferente do modo como as outras estão sujas.
Brinca! pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes que te cabe na mão.
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.
Alberto Caeiro

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Houve um ritmo no meu sono



Houve um ritmo no meu sono.

Quando acordei o perdi.

Por que saí do abandono

De mim mesmo, em que vivi ?


Não sei que era o que não era.

Sei que suave me embalou,

Como se o embalar quisera

Tornar-me outra vez quem sou.


Houve uma música finda

Quando acordei de a sonhar,

Mas não morreu : dura ainda

No que me faz não pensar.

(Fernando Pessoa)